por Gabriela Campos
Um homem negro, pobre, com
antecedentes criminais e um homem branco, rico e tetraplégico, ambos com seus
dramas existenciais e diversas lições de vida para ensinar um ao outro. Foi com
esse contraste polêmico que os diretores e roteiristas Olivier Nakache e Eric
Toledano conquistam cerca de 30 milhões de espectadores franceses com
"Intocáveis". A comédia foi sucesso de bilheteria na França (seu país
de origem) em 2011 e em agosto desse ano chegou aos cinemas brasileiros.
Nas
primeiras cenas do filme, Driss (Omar Sy) dirige em alta velocidade pelas ruas
de Paris, conduzindo o carro do patrão, Philippe (François Cluzet). Ambos estão
fugindo da polícia e já no começo o filme aborda a questão do racismo: os
policiais param o carro e Driss, o motorista negro, é interpretado como
marginal pelos oficiais. Philippe então finge perfeitamente um AVC e os dois
conseguem escapar, seguindo sua aventura depois de muito riso.
É
nos próximos minutos que se percebe que aquela não é a primeira vez que Driss e
Philippe se aventuram juntos. Philippe era amante dos esportes radicais e em um
de seus voos de parapente sofreu um grave acidente, tornando-se tetraplégico.
Além disso, perdeu a esposa que tanto amava e, após isso, nunca mais se
recuperou da perda.
Driss, por sua vez, vive diversos
conflitos familiares e sustenta-se graças ao seguro desemprego que recebe. Como
está em condicional desde que saiu da prisão, precisa comprovar que está
procurando emprego para continuar a receber seus benefícios. Em uma das
entrevistas que vai para apenas assinar seus documentos e ir embora, acaba
conhecendo Philippe, que percebe nele algo de que muito precisava: Driss não
tinha pena dele.
Decide então contratá-lo e, mesmo deixando
sua assistente Yvone (Anne Le Ny), familiares e funcionários muito preocupados,
mantem sua escolha. O jovem, mesmo sem querer, aceita a proposta de emprego
devido a sua situação e, com o passar do tempo, tanto Driss quanto Philippe
descobrem quantas lições de vida podem aprender um com o outro: gostos
musicais, artísticos, carácter e modo de viver a vida.
No filme, a interação entre os dois
personagens cresce a cada dia e, gradativamente, sentem-se cada vez mais a
vontade um com o outro, enquanto nas gravações os dois atores parecem ter sido
destinados a desempenhar estes papeis e contracenar, pois o entrosamento em os
homens é o que da ainda mais qualidade e visibilidade à produção.
O longa metragem também
contraria alguns estereótipos alimentados pelo cinema hollywoodiano, abordando
problemas sociais como a pobreza, o racismo, a diferença entre classes sociais
e, inclusive, utilizando um personagem negro e um cadeirante. Uma comédia leve e
divertida, na qual os espectadores riem de representações naturais e não
forçadas, como na maioria das produções do gênero e que leva à reflexão.